quinta-feira, 21 de maio de 2015

...

Tudo bem com você?

Ele estava sentado no topo de uma pilha de caixas de papelão, me olhando com aqueles olhos enormes e sonolentos, e me lembro como não me pareceu estranho como alguém jovem e bem vestido como ele estivesse sentado aquela hora da noite em um lugar como aquele. Na verdade, olhando para trás naquela noite de abril de 1995, tudo deveria ter parecido louco, absurdo e impossível, mas não pareceu. Lembro como me surpreendi com o efeito que aqueles olhos causaram em mim e mesmo após quase 20 anos me lembro de de tudo com clareza, menos de como cheguei aquele ponto tão baixo da rua, já quase nas docas, onde eu nunca costumava ir.

Ele usava roupas comuns, do tipo que alguém poderia usar sem problemas na rua, mas que em geral usaríamos para ficar confortável em casa naqueles tempos: Uma calça de abrigo, sapatos, uma camiseta com uma estampa colorida que não me dei ao trabalho de reparar, por baixo de uma blusa fina de lã azul, aberta na frente. Na verdade era quase impossível reparar em alguma outra coisa uma vez que você visse aqueles olhos. A pele era branca, os lábios vermelhos até o ponto de mostrarem uma condição saudável e os cabelos eu não posso dizer. O que aqueles olhos tinham de imutáveis, os cabelos ondulados tinham de indomáveis, apesar de a primeira vista parecerem pretos. 

Ele estava sentado em uma pilha de caixas de papelão que se amontoavam contra as paredes de uma casa, em um canto pouco iluminado da calçada, com o corpo inclinado para trás e as pernas dependuradas. Das pontas das mangas saíam duas mãos brancas que depois dos olhos eram o que mais me chamavam a atenção, ainda que eu jamais tenha descoberto porque. O que ele segurava nas mãos era um livro, e este talvez tenha sido um dos motivos pelos quais eu parei e falei com ele, já que neste dia era a terceira vez que eu tinha cruzado com este livro. A primeira vez tinha sido em um sebo da General Câmara, mais conhecida como Rua da Ladeira, e me impressionei em como o livro me pareceu algo especial, ainda que eu nunca tivesse ouvido falar dele. Puxei o volume da estante pela lombada de pano e o abri aleatoriamente na segunda parte, e depois de ler duas linhas, decidi que aquela não era a hora para aquilo. E não sei, na verdade, se existe hora para ler algo como aquilo. Deixei o livro na estante e resolvi passear pelo sebo, pensando se devia ou não comprar aquela coisa, mas nem bem caminhei até o fim do corredor e tive a sensação de que alguém iria por as mãos nele antes de mim. Na verdade era uma urgência de tê-lo em minhas mãos outra vez. Eu precisava dele, e juro que nas duas horas seguintes olhei lombada por lombada naquelas estantes poeirentas e não encontrei mais aquela lombada amarela, ainda que o lugar estivesse, como sempre, silencioso e vazio. 

Saí para a rua com um peso no coração e caminhei a passos largos para o próximo sebo. Não pedi ajuda aos balconistas pois eu conhecia aquelas estantes e prateleiras como ninguém, mas principalmente porque de repente, sem um motivo que possa explicar, tive medo que eles pudessem esconder ou querer o livro para si, dizendo que era um engano que ele estivesse a venda ou algo assim. Ele obviamente tinha ido parar lá por acidente e eu devia encontrá-lo e comprá-lo sem que ninguém percebesse. Inexplicavelmente, a despeito dessa urgência e ansiedade em colocar as mãos outra vez naquelas páginas eu perdia tempo me deleitando com outras obras, folheando e lendo trechos esparsos, e foi ali que ele me apareceu pela segunda vez. Em um livro de poesias antigo e sem título, abri uma página ao acaso e li as seguintes linhas:

Salvem-no, o que vem com a primavera
Os pés descalços semeando raios
As mãos desnudas, as tormentas
Pisando o barro, semeando flores
Vermelhas rosas nas manhãs cinzentas

Salvem-no, em silêncio, aos gritos
Aquele cujas vestes clamam
A volta do céu rubro de outonos
Ainda que tarde seja e o tempo corra
Poder tem de reverter os anos

Das terras secas se colheram frutos
Dos verdes brotos se espalhou o fim
Salvem-no, o senhor do manto
longo em farrapos como sombras
que trazem luz, ou um amargo pranto

Salvem-no, ainda que nunca
entendam como pode alguém
trazer a terra semelhantes dores
que vertem sempre de um mesmo solo
onde vicejam ternos os amores

Sei que não existia ali nada que remetesse diretamente á outra obra mas nos versos estavam obviamente implícitos sentidos ocultos que não tinham outra fonte senão aquela. Assim eu fiquei. o dia todo de beco em beco, vagando por antiquários e sebos, e a noite me encontrou vagando de mãos vazias e olhar perdido, até que numa reentrância cheia de caixas, eu vi o menino dos olhos mágicos segurando aquele livro aberto. 

“Tudo bem com você?”
“Senta aqui” foi a resposta dele, e não me lembro do som da voz dele.

E eu sentei e lemos juntos aquele livro, do começo ao fim. E suspiramos, prendemos o fôlego, e quando acabamos ele me deu a mão e saímos caminhando pela rua. E lembro como os cabelos dele balançavam ao vento, mesmo quando não parecia ter vento, e brincavam e mudavam de cor. E os olhos eram os mesmos desde mil anos atrás. E lembro como ele parecia diferente a cada vez que eu olhava em seu rosto de um ângulo diferente, como se ele fosse feito de partes perfeitas de coisas diferentes que se unissem em uma única obra final. E você pode pensar que elas não se encaixavam bem, mas o fato é que era impossível dizer onde começava uma e acabava a outra, e de qualquer lado que se olhasse ele era perfeito de uma maneira, e diferente do conjunto geral. E primeiro caminhamos juntos e depois ele me levou, quando os postes de luz elétrica foram substituídos por lâmpadas a querosene, e quando as casas cada vez mais antigas foram ficando mais raras até que deixaram de existir e caminhamos na escuridão total. E logo meus pés pisavam em pavimentos de pedra, e depois em terra e por fim andamos descalços sob um céu estrelado, pontilhado por intermináveis constelações que eu não conhecia. 

Saímos de uma floresta escura, onde eu só conseguia seguir em frente confiando na sua mão, e subimos uma colina aberta de onde todo o firmamento de abria até tocar o horizonte. Por fim ele parou e me olhou. E mesmo ali, na sombra, eu via os seus olhos, calmos e antigos, como uma vela quase apagando em um quarto muito escuro. Ele então largou o livro e juro que não ouvi som algum de algo caindo no chão. E ele deixou os braços penderem ao lado do corpo e soltou minha mão. E eu fiz o mesmo e pude sentir a luz as estrelas frias no meu rosto. E então eu olhei para trás e pela primeira vez me senti um pouco surpreso com a situação toda. Pois uma parte de minha mente que ainda tentava racionalizar a coisa toda, achava que tínhamos andado até deixar a cidade para trás. mas a verdade é que a cidade não estava mais lá. E eu olhei de volta para o seu rosto e que os céus me traiam se aquele não foi um dos sorrisos mais impressionantes que eu já vi. Ele parecia desfrutar de um misto de diversão e pena da minha inocência, como um pai mostrando um avião ao filho maravilhado pela primeira vez.

Então eu notei pela primeira vez que a luz das estrelas estava mais forte e peguei sua mão outra vez quando ele me estendeu. E lembro de sentir o vento no rosto e de voar até ver a terra curva e escura rodopiando lá embaixo, e de ter medo de não conseguir mais encontrar o caminho de volta para o mesmo planeta, e de ver coisas que não me atrevo a escrever aqui. E durante este tempo todo eu senti nossos pés tocando a relva molhada pelo sereno.

Não tenho noção do tempo que ficamos lá, e me pareceram eras, ainda que a coisa toda pareça logicamente não ter durado muito mais que uma noite. 

E então, ainda que nesse ponto minhas lembranças estivessem meio borradas como quando acordamos de um sono profundo, lembro como, com um sorriso terno e triste, ele me disse.

“Preciso te levar de volta”

E hoje, pensando naquele olhar e naquele sorriso, não consigo me lembrar dele abrindo os lábios ou do som de sua voz. E para dizer a verdade não sei se em algum momento daquela noite conversamos usando os lábios.

Nos arrastamos então, cansados, de volta aos limítes do mundo de hoje, primeiro por antigas estradas poeirentas, depois por ruas pavimentadas com pedras e lembro  como sentei, por fim, esgotado, em um banco de pedra no cais do porto, quando o céu já se tingia de violeta, anunciando a chegada da manhã seguinte.

E não sei dizer como ele foi embora. E também não sei dizer quando aquele gato sentou ao meu lado. Só sei que por um longo tempo acariciei seu pelo e seu pescoço sem nem mesmo olhar para o lado, de olhos fechados, meio dormindo e meio desperto. 


E quando o primeiro raio de sol despontou no horizonte, eu me espreguicei e aquele esguio e ágil animal saltou do banco, e se espichou nas pontas das patas, se espreguiçando assim como eu. E me lembro de como ele era lindo, com um pelo que eu nunca tinha visto antes, preto como a noite quando visto de um lado e alvo como a luz da lua quando visto do outro, em cores mescladas e divididas por uma linha elegante que corria da cauda ao focinho. E ele andou alguns metros e virou para trás, antes de desaparecer caminhando, indo embora e me deixando ali, de mãos vazias, descalço. E no seu último olhar estavam olhos grandes e sonolentos, imutáveis há mil anos. 

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O Reflexo - 2

      Saiu de um banho normal. Água escaldante seguida de água gelada. Escaldante até sentir o cansaço e o corpo mole pelo calor. Gelada até conseguir se acostumar e encher os pulmões de ar, soltando depois devagar por umas 3 ou 4 vezes. A água gelada faz a respiração ficar convulsiva e em geral demora um bom tempo até se conseguir respirar com tranquilidade durante um banho gelado. Saiu do box apertado. O cheiro no banheiro era de sal, mofo e umidade. Contrastava com o cheiro de limpeza do seu corpo e seus cabelos.

      O lugar era apertado e era quase impossível se secar sem ver pelo menos uma parte dele refletida no espelho. Achava isso desconfortável, mesmo que só houvesse perigo durante algum contato visual. De qualquer forma, era como debruçar-se sobre a sacada de um prédio e sentir uma parte da mente querendo pular. A luz estava apagada e pela janela entrava alguma luminosidade da rua. Era escuro de uma maneira que não se poderia ler, mas ainda se enxergava tudo com certa clareza. De repente, sem motivo, endireitou o corpo e se olhou no espelho. Se encarou fundo, para constatar aliviado que uma grande mancha embaçada tapava o seu rosto. Mesmo assim era só inclinar a cabeça uns poucos centímetros para o lado para que a imagem saísse de trás da mancha e ficasse nítida. Perguntou se havia algum problema.

"Não. Hoje não." - responderam.

      Realmente ele não sentia medo. Inclinou a cabeça e se encarou fundo no espelho. O rosto era um pouco difuso, e não havia nada ali além de poucas sombras. Esperou para ver se alguém aparecia e estava se perguntando onde estava aquele ser negro, quando ele respondeu, não do espelho, mas sim de trás da sua cabeça. Foi mais um pensamento transmitido como idéias do que uma voz. Na verdade, não havia naquilo nenhuma voz, a não ser ideias:

- Cubra a cabeça com a toalha. Como um capuz.

      Ele então cobriu a cabeça com a toalha, pensando que ficaria parecido com um monge ou algo assim, sem entender exatamente o motivo de fazer aquilo, e imediatamente o rosto desapareceu nas sombras....E então, lá estava ele. Dentro do capuz, bruxuleante e antigo:

- Estava muito claro. - Falou com um tipo de sorriso envergonhado - Eu não conseguia sair.

      Ele se encarou um pouco no espelho, admirando com carinho a sombra pura e profunda. Então tirou o capuz e seu rosto voltou a ser normal. Sem bem saber porque, terminou de se secar e saiu do banheiro. Foi até o quarto, se vestiu e desceu para a sala. Ficou pensando no encontro. E só então se deu conta de que não havia conversado nada com ele. Depois de muito tempo, se encontraram e não haviam trocado nenhuma palavra. Resolveu voltar ao banheiro. Enquanto subia as escadas, as vozes na cabeça diziam...

"Não, não, não...o que você está fazendo? Não volte lá! não volte lá."

      Mas a curiosidade era maior. O que se seguiu foi rápido e quase impensado. Entrou no quarto e no banheiro. Se olhou no espelho e notou a claridade. Então se virou e fechou a porta atrás dele. A luminosidade era a mesma de antes, mas com os olhos desacostumados a escuridão agora era bem maior. Pegou uma outra toalha, jogou sobre a cabeça e se olhou no espelho. Não podia ver os seus olhos (e provavelmente isso foi uma sorte tremenda), e enquanto se dava conta de que Ele não estava mais lá, o reflexo respirou dentro do espelho. Aquela coisa que não era o Ser escuro, respirou fundo e abaixou um pouco a cabeça. O reflexo não era mais ele, não era mais dele. Depois de sair do banheiro e ir para sala, alguma coisa tinha mudado e agora não era mais um ser profundo e inteligente que estava lá. O banheiro então se encheu de uma sensação horrível e ele sentiu medo. Primeiro medo e depois pavor. Aquela coisa maligna ficou meio dobrada lá dentro, respirando de uma maneira ofegante e dobrando a cabeça, e ele sentiu como ela se divertia com o pavor dele. Sentiu que ela não podia sair do espelho (e nem queria), mas a simples presença dela lá era horrível demais. Então levou a mão para trás, para abrir a porta e por um instante, sentiu que a porta estava trancada. Sentiu que ela não ia abrir e quando ele se virasse para forçar a maçaneta, aquilo ia sair lá de dentro e agarrá-lo pelos ombros. E então a porta abriu e ele correu para fora. Tirou a toalha de cima do rosto e jogou de volta no banheiro.

      Ainda teve tempo de ver, quando o banheiro ficou claro, o próprio reflexo assustado correndo do banheiro.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Reflexo

       Entrou no banheiro, tirou a roupa e ligou o chuveiro. Aquele banho era para ser mais um momento relaxante que um banho em si, então nem acendeu a luz. A única luminosidade vinha de uma fina faixa de luz que entrava por debaixo da porta, e mesmo aquela não permitia que se vissem mais do que alguns poucos contornos. Deixou a água escorrer pelo corpo durante longos minutos, de olhos fechados, pensando em coisas distantes, que não passavam de alguns borrões. Inclinou a cabeça para trás e para o lado, deixando que a água entrasse primeiro em um ouvido e depois no outro. Aquilo fazia cócegas, mas abafava o som do ambiente, e quando os ouvidos ficavam cheios de água morna, era como se ele estivesse debaixo de uma pilha de cobertores, ou no fundo de uma piscina. Ajudava a meditar. Não demorou muito e ele começou a saber os sons que precisava fazer. Ficou com medo, mas uma pergunta rápida e uma resposta positiva e encorajadora bastaram para que ele começasse a soprar o ar devagar, a garganta vibrando como um diapasão, em baixas e altas frequências. Foram cinco ou seis notas no total, durante uns 25 segundos. Uma música clara e limpa.

       Então o lugar todo ficou silencioso de repente e era como se ele estivesse em pé sobre uma pedra, debaixo de uma das quedas d`água de uma cachoeira que rugisse, as torrentes furiosas tentando carregar tudo pela borda do mundo abaixo, onde os mares despencam. Ficou com medo de mover os pés, receando cair em um abismo apenas alguns centímetros de onde estava. Se virou de costas para a água, que agora batia em sua nuca e corria pelas costas e pernas abaixo, e era como se pudesse sentir, não mais o espaço do banheiro, mas o vazio absoluto a sua frente, envolto em vapores de água e escuridão eterna. Ficou nessa posição por mais tempo do que pode contar, sempre cuidando para não escorregar e cair, e então, quando não tinha mais medo mas achou que já tinha apreciado o suficiente do momento fantástico, virou devagar e inclinou a cabeça. Quando a água saiu do ouvido, ele voltou a escutar o barulho normal do chuveiro e sentiu que embaixo dos seus pés existia não mais o basalto frio, liso e cheio de curvas, mas sim os conhecidos azulejos do banheiro, planos, com a emenda entre eles.
     
       Desligou a água e abriu o box. A primeira coisa que viu quando ergueu a cabeça foi o seu reflexo no espelho, difuso e incompleto através da escuridão. A segunda coisa que percebeu foi que não era o seu reflexo, mas sim alguma coisa maior e mais escura que ele. Em poucos instantes uma série de pensamentos rápidos riscaram a sua cabeça. Sabia que ela tinha sido chamada pela música e lembrou que se olhasse firme nos seus olhos ela poderia trocar de lugar com ele. Essas coisas ficavam por tempos imensos atrás dos espelhos, apenas esperando que alguém ficasse frente a frente e olhando nos seus olhos no momento certo, para trocar de lugar com elas. Desviou os olhos após esses pensamentos quase que imediatos, e já estava pensando em acender a luz, mas foi diferente do que ele imaginava.

       Uma voz na sua cabeça falou firme e alto.

- Não tenha medo, ele não vai te fazer mal nenhum.
- Não?
- Não. Ele te ama.
- Ele me ama?
- Sim. Ele te ama mais que tudo.
- ......
- Ele é o mal. E te ama porque você esconde ele. Ele só existe porque você o protege do mundo. Se ele aparecesse assim aqui, seria eliminado.

       Então olhou com mais atenção para o que estava no espelho e percebeu que aquela coisa escura não estava substituindo o seu reflexo, nem estava na frente dele. Era como se o que estava no espelho estivesse ligeiramente atrás, e o seu corpo normal não estivesse sendo refletido. O seu contorno era difuso e quase começava a se espalhar no ambiente, como raios, mas não se via sinal do reflexo do seu corpo físico.

- Eu escondo ele?
- Sim. E você faz isso magistralmente. Você deve se orgulhar de ter alguém como ele. Ele é um dos únicos que restou. Ele é de uma raça mais antiga do que você, e é extremamente puro. Note como as coisas ficam difusas quando se aproximam dele, mas que o que efetivamente faz parte dele não tem nenhum matiz.

       Notei, realmente, que ele não era somente negro, como tinta, ou uma superfície. Mesmo a tinta negra tem impurezas e reflete alguma coisa. Ele era simplesmente negro. Deveria ser criada uma nova palavra para como ele era, ou a palavra "negro" não deveria mais ser usada por nós em uma grande parte das oportunidades. Ele era simplesmente ausente de qualquer outra cor, a não ser o negror mais profundo. E era lindo. Puro, antigo e único.

       Fiquei olhando para aquele ser fantástico com um olhar quase terno.

- Ele só pode existir em pessoas como você, e ele não é o mal porque faz o mal de uma maneira como você imagine. Não é um "mal"vulgar. Ele simplesmente é assim. A natureza dele é extremamente antiga e a palavra "mal"foi a que nós escolhemos para definir algumas coisas relacionadas com ele, mas não existe palavra especialmente designada para a forma como ele é realmente. Você usa a palavra gelo para definir aqueles cubos esbranquiçados da sua geladeira, e usa a mesma palavra para chamar um pedaço de um iceberg, azul, puro e cristalino, com milhões de anos de idade. É mais ou menos a mesma coisa.

- E como eu escondo ele?
- Você sabe a resposta. Você faz coisas boas. Você é tão bom e tão puro quanto ele é mal. Em você existem duas coisas extremamente opostas, e a segunda só pode existir por culpa da primeira. Você é uma das pessoas mais boas que existem e ao mesmo tempo abriga o que existe de mais negro na terra. Existem poucos como ele. Você conseguiria identificar apenas um outro, de aspecto mais feminino.

       Lancei mais um olhar para meu colega no espelho, e ele me devolveu um olhar, com duas chispas prateadas e serenas, de dentro do mais absoluto vazio. Era quente e seguro ter alguém como ele ali comigo.

Acendi a luz, com um vazio no peito, e só o que as luzes brancas mostraram, foi o meu reflexo no espelho.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sobre ônibus, odores e viagens no tempo.

Era um sábado á tarde e eu estava indo viajar. Já tinha comprado passagem e embarcado mas o ônibus ainda estava parado e com o motor desligado pois faltavam uns 20 minutos para a partida.

O dia estava bonito, céu azul com grandes nuvens que logo iam começar a chover, mas um pouco quente. Sentei no meu banco, provavelmente o mesmo desde uns 15 anos, porque o ônibus era dos mais velhos da empresa. Em menos de 1 minuto minhas costas já estavam colando no banco, a respiração levemente ofegante por causa do calor. Estava aquele ar surdo e meio estagnado, como o que fica dentro de um carro após a última pessoa sair e fechar a porta, lhe deixando sozinho lá dentro. Um silêncio calmo como o de o fundo de uma piscina, quando todos os sons cessam, os ouvidos apitam de leve e logo depois, o ruído normal recomeça, abafado e distante.

Fiquei ali por um tempo, aproveitando o silêncio e o calor, levemente desconfortável. então abri a janela e um sopro de ar fresco deslizou para o meu colo, pescoço, ouvidos e rosto. 

 Imediatamente o cheiro, o calor e o silêncio me remeteram ao passado, talvez uns 10 ou mais anos atrás (não muito, mas considerando que tenho 24 anos, um bom retrocesso), quando eu estava na mesma situação. Talvez a percepção do momento como idêntico ao passado (e digo idêntico porque parecia que se eu pegasse um espelho e me olhasse, veria refletido um menino de 12 ou 13 anos), se devesse  não somente aqueles 3 fatores, temperatura, sons e odores, mas sim a uma complexa reunião de outros detalhes que eu não estivesse percebendo, como explica Poe no começo do conto "A queda da casa de Usher", e que fossem pouco perceptíveis sozinhos mas tivessem um grande impacto sobre o panorama geral quando agrupados.

Sobre isso tudo eu já pensei e apenas revi as idéias naquele momento. O que surgiu de novo foi uma outra idéia. Supomos que um determinado cômodo de uma casa tenha permanecido imutável ao longo dos últimos 80 anos. Mesmo entrando nele você provavelmente não vai ter uma idéia de como ele era há tanto tempo atrás, pois a percepção de um ambiente não é apenas visual. Supondo que essas condições se repitam, existindo neste aposento dois dias de verão idênticos, com o cheiro de flores de glicínia entrando pela janela e trovões ecoando ao longe, mas separados por 60 anos. As paredes brancas de mármore e os painéis de madeira, assim como o marco da janela e o carpete felpudo permanecem os mesmos. Apenas no dia de hoje, quando as outras condições se repetem, o menino de 9 anos, deitado no carpete sem camisa, ouvindo os trovões ao longe, agora é um senhor de quase 70, deitado da mesma maneira e, se tiver os sentidos preservados, sentindo a mesma coisa, como se tivesse voltado ao passado. 

Até aí nada de novo. Apenas uma espécie de nostalgia elevada ao extremo ou uma experiência de deja vu. Foi o que aconteceu comigo quando das centenas de viagens de ônibus, duas idênticas aconteceram separadas por um lapso, talvez por casualidade ou por uma dobra no espaço-tempo. Isso poderia acontecer com qualquer pessoa que seja ligeiramente sensitiva. No meu caso são os cheiros, e confesso que não sei o peso disso para as outras pessoas. Se é igual ou se cada um revive momentos a partir de diferentes estímulos. Mas levando sempre em conta que sejam os estímulos iguais ou muito semelhantes, um jovem de 20 anos colocado no mesmo ambiente que o senhor, poderia REALMENTE experimentar aquele dia de 8 de agosto de 1912 ou 13, apesar de ter nascido somente muito depois. Essa experiência, muito diferente de visitar museus, pirâmides e monumentos, seria em sua essência muito mais impactante e representativa. Seria, a meu ver até agora, o mais próximo de uma viagem no tempo que qualquer pessoa poderia experimentar.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Na Montanha.

       Já era o quinto dia que subiam. Não era possível que se pudesse subir ainda mais, mas os pés eram postos uns na frente dos outros e a impressão era de que subiam, apesar dos contrafortes negros continuarem se elevando a milhares de metros a frente. Os vales foram ficando mais estreitos, os rios foram minguando até sumirem e a floresta densa dera lugar primeiro a arbustos baixos e agora a uma vegetação rasteira e quase sem vida na qual não podiam sequer agarrar-se. A primeira camada de nuvens ficou no vale lá embaixo á três dias atrás e uma segunda camada mais negra e difusa mandava rajadas de chuva congelada e flocos de neve contra os olhos de todos em intervalos cada vez menores. O rumo não se desviava do oeste um grau sequer e cada dia mais cedo o sol sumia atrás do paredão negro, a medida que eles iam avançando sob a sombra gigantesca dos contrafortes. No final do sexto dia puderam ver pela primeira vez uma falha no topo das montanhas. O sol entrava diretamente por ela e nos últimos instantes era como se a pedra se tornasse etérea, dando origem a um lugar além do que se poderia encontrar do outro lado. Aquilo apavorou a todos, mas atraiu-os ainda mais para o destino desconhecido que os esperava. Na metade da manhã do sétimo dia chegaram ao pé das montanhas e o que viram fez com que cortassem o fôlego, apesar do pouco ar que dispunham respirando normalmente. O fato é que a cada dia mais perto das montanhas os 4 brancos se sentiam mais carregados. Não existia palavra para descrever a energia que os preenchia, se é que era algo assim. Efeitos estranhos surgiam nos 4 irmãos quanto mais eles se aproximavam do oeste. Não se podia olhá-los sem sentir uma ardência nos olhos, apesar de que não se via brilho nenhum que causasse essa sensação. Também pareciam ter estaturas maiores que o normal apesar de serem apenas crianças. Jacob, o mais velho, tinha 19 anos mas parecia ter mais de dois metros e meio, mas quando me aproximava e colocava a mão sobre sua cabeça, o braço ficava quase na horizontal, levemente inclinado, evidenciando que a altura dele não podia ser muito diferente da minha. Nas longas horas que conversávamos, sua voz estalava, como carregada da matéria dos relâmpagos, e ele se sentia mal pelo desconforto que isso me causava, apesar das minhas tentativas, em vão, de esconder a dor que eu sentia. Quando no sétimo dia chegamos aos pés da cadeia de montanhas, resolvemos acampar. Apesar da disposição dos três ter sido aumentada após tocarem com as mãos nuas o bloco maciço de basalto, eu me sentia esgotado e não podia mais continuar.  Naquela noite, durante uma de nossas conversas sobre o futuro e os sonhos de Jacob e seu irmão, meu olho direito se tornou vermelho e meu ouvido começou a sangrar. Jacob se sentiu arrasado e resolvemos cortar a conversa. No dia seguinte ele pisou pela primeira vez nos degraus de pedra esculpidos nas montanhas e, se vocês pudessem vê-lo, com o braço sobre o corrimão que era da altura da minha cabeça, diriam que ele tinha facilmente três metros de altura. Eu me sentia mareado, estava completamente surdo do ouvido direito e ao simples sussurro de bom dia do irmão mais novo, foi como se uma agulha atravessasse minha cabeça. Martin não estava nos melhores dias e vomitou muito, ainda cedo. O pequeno fazia seu trabalho maravilhosamente cuidando do irmão mais novo e do segundo, e não sabia por que estava tão mal, mas não desanimava. Seguimos o quarteto escada acima e era  quase uma piada de mau gosto que 4 seres como aqueles não pudessem chegar  até lá sem dois farrapos como nós. A subida toda  foi um verdadeiro inferno e nas duas vezes que eu cai de joelhos e Jacob tentou me segurar pelo braço, o aperto frio de sua mão deixou marcas azuis que doíam muito e que atrapalhavam mais ainda meu avanço. Dava pena ver a expressão no rosto dele, mas era inevitável, e nas outras vezes ele apenas esperou que eu me levantasse sozinho. O dia escurecia cada vez mais e o caminho subia até alturas estonteantes.
            Quando ergui a cabeça e vi a estreita abertura na pedra pendurada a menos de 30 metros sobre nós foi como se tivéssemos chegado ao fim, mas os últimos três lances de pedra talhada ainda precisaram ser superados com muito sofrimento. Devia faltar ainda uma hora para o por do sol, e nosso tempo chegava ao fim. Após vencidos aquelas últimas duas ou três dúzias de titânicos degraus, onde a pele nua se congelava e grudava ao simples toque, podemos enfim ver o que antes estava tão longe. Coloquei um pé, cambaleando, no estreito corredor que estava a nossa frente. Era como se uma porta de pedra devesse existir ali e o cenário ficava meio incompleto sem ela. Talvez em outros tempos, ou outras realidades essa porta existisse. Eu acredito que sim. Ao chegar no lugar plano que levava ao outro lado da montanha, talvez por estar a tanto tempo subindo, coloquei todo meu peso em um pé e firmei ele alto demais, sobre um degrau que não existia, de forma que me estatelei no chão. Nenhum dos 4 podia me ajudar, de forma que fiquei ali por um tempo. É bom quando se está preparado para o próprio fim, e ao invés de desconforto a pedra fria era quase uma carícia ao meu rosto. Quando me senti mais descansado o suficiente, me arrastei até onde os cinco estavam sentados. O sol seguia baixando, a julgar pelo horário, pois não podíamos mais vê-lo  já que além do portal estava apenas um mar difuso de nuvens. Na verdade, nuvens não define aquilo. Tratavam-se mais de vapores que rodopiavam e se dissipavam, voltando a surgir e se agrupar do nada. Parecia uma coisa viva. Um amontoado de serpentes etéreas tão próximas que criavam aquele efeito compacto de nevoeiro, bruxuleando no vazio, cada uma com seu matiz próprio, mas infinitamente parecido ao do outro ser logo ao lado. O silêncio era tanto que por um momento achei que meu outro ouvido também tivesse sido destruído, mas o barulho do raspar das minhas roupas contra o chão me provou o contrário. Ali ficamos, quase que em suspensão, esperando.
             O que se seguiu foi fantástico. Não sei bem como começou, mas lembro que de repente o vazio a nossa frente mudou imperceptivelmente sua cor de cinza para um vermelho violáceo quase indistinguível. Não se sabia desde quando, mas se sabia que estava lá. Se estivéssemos conversando ou dormindo, aquele seria o momento em que, sem motivo aparente e sem explicação, mas com uma certeza indiscutível, todas as atenções se voltariam para um ponto em comum, além do visível a nossa frente. Então a cor se tingiu para um vermelho sangue e então para tons de fogo e brasa. O sol se deitava em um deserto interminável, a milhões e milhões de quilômetros dali, e podíamos vê-lo. Mesmo através do nevoeiro intransponível, que agora de revolvia e espiralava ao redor de si mesmo, com a cor de mil estrelas explodindo, podíamos ver, em nossas cabeças, o sol, já a meio caminho de desaparecer. Mais que isso. Podíamos OUVIR o sol, com o rugido de milhões de explosões de fogo a cada segundo, um rugido que poderia engolir o planeta apenas com seu som. Não o percebíamos com os sentidos normais, que apenas absorviam o lusco-fusco mágico do nevoeiro, mas sim dentro de nossas cabeças. Percebíamos no centro do crânio, logo atrás da testa, a imagem mais vívida do que a visão, e o som mais estrondoso que os dos ouvidos. Todos estávamos de pé, e os quatro gigantes loiros já brilhavam, formados agora de plasma, com as mesmas cores da névoa. O sol irradiava ondas de gás e poeira, carregados de pura energia, vibrando e pulsando além de um horizonte inatingível fisicamente e eu senti, de um outro lugar muito distante além de mim, meu corpo sendo estraçalhado por essas ondas. Já não éramos mais um só, e, quando enfim o último arco de sol desapareceu detrás das areias inatingíveis, um estalo como o de um arco voltaico desaparecendo no ar foi ouvido e, acima da linha do horizonte, uns 5 graus, a estrela Dalva explodiu de uma só vez num estampido de luz verde que cresceu e engoliu todo o espaço, o deserto e o nevoeiro num intervalo de 2 segundos, chegando até nós e ao lado oeste das montanhas, onde ela rebateu contra a parede maciça de pedras e desapareceu num ricochete que lançou estilhaços para o céu sumindo então no ar entre fagulhas verdes. E então não éramos mais quatro e dois, e sim seis gigantes parados no extremo do paso de pedra, e dois montes de alguma composição orgânica extremamente complexa. Como último efeito do cataclismo, o nevoeiro se desfez por alguns instantes e a noroeste apareceu uma montanha, tão alta que as geleiras a seus pés tinham mais de 48 mil pés de altura, dependuradas sobre beiradas de pedra amarela. Sobre as bordas de gelo, centenas de aves desconhecidas e gigantes esvoaçavam e mais acima, a meio caminho do zênite, ficava o inalcançável cume granítico do Ngranek, aquela montanha que em alguns universos contém a face esculpida dos deuses, e que desapareceu em seguida em meio aos vapores, podendo se dizer que nem estava ali.


Assim foi o começo e o fim.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Dams, Sand Balls and Deep Hapiness

I Love to do dams.

I love to do dams
But let me tell you something...sometimes, when I am tired or stressed, and are alone in my home...I still do dams...just like when I was 5...I begin with my foot..mixed some ground with water...just looking when the ground gets like an avalanche under the limpid water...and then, suddently I am there again, just like when I was 5, sitting just beside the water and making channels, dams, tunnels and every sort of things...

and I think I can still doing that when I was 80...don't understand how whe can let the good things of childhood goes away

there is a man in the beach where I go...he's also from the same city than I...he is around 45 years old...so, when I was 10, he had around 30...and he tought me how to do sand balls...big sand balls with dry sand and water...at that time I allways run beside them...learning how to do that wonderfull big sand balls...and some point...some day...I grew up...and he still going ALL the day...in the beach...from the water to the dry part...over and over again...making balls...every day...from every year..since I was 10 untill today...he have some mind problem...my mother told me once...and I think...if that are not the REAL hapiness...just make sand balls...over and over...

today...sometimes I sit in the beach..and i'm just dying to go again with him..but now I am an adult man and all this shitt...hehe...and I just see him walking to the water and coming back...making that balls bigger and bigger until they broke..or untill he give them to some child...just like they give the bigger to me..
 haha
thats a good history...and each word is real...
 and I was never writed anything about it before
 thanks...hehe

terça-feira, 2 de julho de 2013

Matemática 1 (Brainstorm)

Queria falar agora da matemática. Uma conversa bem descontraída e sem muita ordem que pode confundir mas que prefiro deixar fluir já que apareceu assim mesmo na minha cabeça. Queria falar a respeito de geometria, não convencional, de números, ondas sonoras e opticas e de tudo o que tem alguma relação com este tema. Tudo o que vemos atualmente segue um padrão geométrico bastante comum, com pouqúissimas exceções. O homem moderno segue por algum motivo, cultural ou genético, padrões que impedem que ele parta para ramos mais interessantes da geometria. Em geral vivemos e compreendemos um mundo de três dimensões, mas o que aconteceria se pudessemos encontrar dimensões paralelas ou perpendiculares as nossas. Supondo que vivêssemos em um mundo de duas dimensões, um mundo plano, a experiência seria aproximada ao que encontraríamos descobrindo uma terceira, muito difícil de expressar ou explicar com desenhos e palavras, praticamente impossível de ser representada, mas perfeitamente possível, apesar de dificilmente, compreensível e imaginável. Assim explica Carl Sagan em um de seus episódios da série Cosmos. Bom, podemos então imaginar que se a mente consegue, mesmo que por instáveis momentos imaginar uma quarta dimensão, é possível que ela consiga explorar até certo ponto essas outras realidades e planos. Seria interessante supor que existam espécies de portas para tais lugares, difíceis de serem encontradas pois a sua criação fugiria de padrões normais para a espécie humana. Estas portas ficariam escondidas em dobras, em espaços entre notas musicais sonoras, pequenas vibrações ocultas e naturalmente não criadas entre as melodia de uma canção popular no rádio. Algumas difíceis demais para serem executadas, outras simples e talvez casualmente criadas por um meio de produção de sons mecânico. Outras deixariam de ser exprimidas, em quinas de casas, em finais de sótão(como supôs Lovecraft no conto A Casa da Bruxa) por serem "contra" a natureza, de certa forma grosseiras, ou "agressivas" ao natural. Que paisagens inimagináveis poderiam ser vislumbradas por tais dobras, se nos posicionássemos nos locais corretos. Talvez tais ângulos existam, também em locais não trabalhados pelo homem, como cavernas, rochas de basalto ou reentrâncias em uma montanha. Afastando as formas mais conhecidas de geometria, física, ondas, etc. talvez existam ainda outros tipos de fenômenos que possam desencadear coisas assim, coisas que não tenhamos ainda compreensão suficiente. A partir disso, podemos imaginar outras formas de interpretar fenômenos como a telepatia e a translocação, ou bilocação. Bom, infelizmente o fluxo de idéias sumiu e não sei para onde. Demorei um pouco demais para escrever desta vez. Na próxima espero expor algumas idéias de forma mais ordenada.